Em tempos de hobbit o senhor mais falado é o dos anéis, de Tolkien, mas ainda assim eu descobri um senhor de Salgueiro com enorme poder. O Senhor dos Sonhos, de Raimundo Carrero (que o Pajaracas já entrevistou e nunca publicou), conta a história de Domingos de Oliveira, um homem que apesar da fortuna que possui prefere viver como um pobre, gastando o que tem a ajudar os outros.
O meu livro é o dessa capa, e não a capa do velhinho... |
A história não e tão simplória como a pequena sinopse que apresentei a pouco, Domingos se vê envolvido numa disputa política devido a caridade que pratica, e, uma delas chama mais a atenção. Vendo um grupo de desafortunadas velhas lutando com os bichos de rua para pegar os restos de feira e assim viver mais um pouco, o sonhador resolve investir uma parte do seu dinheiro na construção de um abrigo para estas senhoras. Isso fere os brios do prefeito Anselmo, coronel (ou algo assim) da cidade, que vê isso como afronta a sua gestão e ao sucateado abrigo público.
Raimundo Carrero escreve um texto muito bom de ser lido, com personagens muito interessantes. E isso vale mesmo para os que aparecem poucas vezes no livro como o Cego candidato e o coronel Anselmo (que tenho a vaga lembrança de só ser descrito e não ter realmente dado as caras em hora alguma). Em cada aparição de um personagem é possível, depois, ao voltar algumas páginas, perceber que o autor havia ali plantado alguma coisa e geralmente ninguém é realmente o que parece... e isso dá uma veracidade enorme as figuras apresentadas. A muda que fala em sonho e as velhas também são marcantes, mas, para mim os grandes personagens do livro são Domingos e a ganância humana...
A capa do velhinho |
Domingos consegue ser um herói que não deve nada a Luke, Aragorn, Batman, Hércules ou qualquer um que passa pela famosa jornada tão falada por Campbell. Ele tem seu mestre, cai e ressurge. Enfrenta tudo que lhe é colocado, e olhe que colocam muitas coisas a frente deste senhor de sorriso enigmático e vestes humildes. Apesar de o livro deixar bem claro que a grande força do herói advém de sua fé no divino, gosto de pensar que ele encontrou o divino por já ser naturalmente bom, mas isso é só minha pífia imagem do personagem.
Pouco antes eu falei que o livro é muito bom de ser lido, mas não se engane achando que o livro é cheio de flores, na verdade Carrero produziu dentro desta obra alguns momentos de suspense e terror realmente tensos. A cena da cela só não me deixou mais apreensivo que Winston e sua máscara de ratos em 1984... Assim ele permeia o livro de maldades que se acumulam sobre os homens fracos (ou seriam eles os verdadeiros fortes?) e você consegue enxergar ali o que acontece na esquina da sua rua, no seu bairro e na sua cidade.
Coloquei esta imagem só por ter achado legal |
Segundo minha rápida pesquisa (que se originou na capa do livro), Domingos Paulo foi inspirado em um homem de Salgueiro. E daí minha mãe me deu mais informações: "O senhor dos sonhos foi inspirado em um senhor salgueirense, chamado DOMINGOS PAULO, que morava no bairro do curtume. Era um senhor que acumulou fortuna em terras, prédios lotes, gado e não usufruía. Atendia as necessidades dos amigos, dos compadres e dos pobres. Ele porém vivia numa situação de pobreza total.".
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