A derrocada do Tudog e outras guerras nas calçadas

Quem viveu os anos 90 em Salgueiro viu na integra batalhas ferrenhas no comércio e nas calçadas. Impérios eram erguidos do nada e traziam na sua rabeira inúmeros concorrentes que copiavam o modelo do negócio cara-de-paumente de forma que todos morriam abraçados ao final de pequenas eras.
retirado de http://www.altiplano.com.br/0809ashotdogamerica.html
Tá que a salsicha do Tudog não passava do pão mas não existem referências mais
Temos vários "cases" para estudar, citei no começo os negócios de calçada mas, podemos lembrar dos embates entre MB e Lojas Freedom, que terminou sem vencedor. Sem forçar a memória lembramos da proliferação de casas de suco na cidade e já percebemos o declínio da maioria delas. Mas um dos maiores casos veio de carrocinhas.

Com uma ideia genial e tino para investimento, alguma pessoa muito inteligente percebeu que Salgueiro carecia de lanches rápidos em muitos pontos da cidade, pra não dizer em todos. Ninguém aguentava mais caldo-de-cana com pastel de vento e o Boca Doce já havia fechado há tempos, então, colocar carrinhos para vender hot-dog na rua movimentou a cidade. Surgia o império Tudog.

Rapidamente, com uma logística de dar inveja a operações de guerra, toda porta de colégio tinha na hora do recreio uma carrocinha de prontidão. Na saída das igrejas também. Dos shows e eventos. Na rua do comércio. Na porta da sua casa. Todo lugar tinha uma carrocinha vermelha e amarela para fazer a alegria da família!

Com um real você comia a iguaria: pão de hot-dog amarelo e maior que o francês; carne moída vermelhinha de pegar a cor da salsicha e do coloral, sem contar aqueles deliciosos nódulos de gordura; e salsicha para fechar o grosso do alimento. De opcionais o milho, a ervilha, o vinagrete e o queijo ralado. Duas tiras de maionese e mais duas de catchupe eram, metaforicamente, a cereja do bolo.

Virou mito em pouco tempo. Uma lenda comestível. Algumas mães aflitas com a mudança na alimentação de seus filhos até alegava que quem comia muito ia ficar com os pulmões amarelos igual ao pão. Todo mundo queria e corria para comprar. Todo mundo queria tanto que em pouco tempo surgiram os clones.
retirado de http://curitiba.olx.com.br/carrinho-de-cachorro-quente-iid-271725549
Se pintar de amarelo é Tudog, de azul é Ideal
Como se fosse a Coca-cola do sertão a Tudog enfrentou seus adversários sem muito esforço no começo. Mas em pouco tempo as tubainas do pão com salsicha bolaram estratégias abusivas e o CADE não se meteu na confusão. Se tornou uma guerra dos clones e o Hot-dog Ideal era o Anakin Skywalker que saiu varrendo tudo pelo caminho.

A Tudog começou a fraquejar perante as inúmeras famílias que de consumidoras passaram a concorrentes num piscar de olhos. O Hot-dog Ideal desovou tantos carrinhos na rua, que a noite aquele Girador da Bomba (famosa Roda do Prefeito) ficava azul com detalhes vermelhos.

Concorrentes surgindo a cada minuto e cada vez mais agressivos, baixando preços para 75, 50 e até 25 centavos em alguns casos! Essa baixa era escorada na diminuição do tamanho do pão, meia salsicha, um quarto de salsicha (sim!!! tinha dessas), salsicha em rodinhas, etc. Algumas davam o suquinho: o famigerado e delicioso mancha pulmão (esse comprovadamente podia deixar seus pulmões amarelos, roxos, azuis, etc).

Desse jeito o império ruiu. Logo em seguida todos os outros foram aos poucos pelo mesmo caminho. Ficou insustentável o negócio, a quantidade de carrinhos de hot-dog era muito maior do que a procura.

Hoje em dia ainda restaram alguns vestígios desse comércio. Não se vê mais o movimento das carrocinhas, quem as usa geralmente fica parado num ponto. Quem não as usa as deixa guardadas no quartinho do fundo de casa.

O Tudog foi, para mim, o maior exemplar da "inveja comercial" da nossa cidade, sem contar que o Salgueirense contribuiu (e contribui) para esse tipo de concorrência. Ele troca a qualidade por quantidade em milésimos de segundo na maioria dos casos e, se agarra a ela com unhas e dentes.

Outros casos? Pipoca de microondas. Mini-pizzas. Lan houses. Moto-táxi (a rosa foi a primeira, e não a preta). Lojas de 1,99. Corte de cabelo por 1,99. E vários outros que não me lembro. Todos eles passaram por seu momento de apogeu e concorrência descerebrada.

Rodolfo Nícolas se emociona em lembrar a primeira vez que juntou 1 real para comprar um Tudog (nem tava mais no auge...).

3 comentários:

Simão Vieira de Mairins disse...

Fantástico! Auhauhauha!

Pedro Henrique Mansur disse...

O embate entre Freedom e MB deu certo sim, a MB virou Ponto Eletro e tornou-se a maior rede de eletrodomésticos do nordeste com mais de 200 lojas espalhadas por várias cidades, fazendo com que Assim as Lojas Freedom fechasse as portas.

pajaraca_n disse...

Olha, pode até ter dado certo fora, mas em Salgueiro não tem mais nenhuma MB ou Ponto Eletro (ao menos que me lembre).