Como era lindo meu pé de Salgueiro

Acho que esse foi um dos lugares de Salgueiro onde mais eu passei meus bons momentos (tirando a Francisco Correia e o vídeo-game de Dona Delma, assim bem por alto). Eu, assim como muitas outras crianças e adolescentes de nossa cidade, por algum motivo tendia a esse ponto. Seja por causa da família católica que ia às missas, seja por ter algum amigo maloqueiro que jogava bola ali, alguma briga de gangues, dar uns pegas em alguém nos banquinhos da praça, mijar atrás da igreja, comer e dançar enquanto marcava o bingo na Trezena de Santo Antônio... A lista é bem grande.
Valeu mundinho!
Participei de vários eventos naquela praça. Vi a reforma da mesma e, ainda lembro quando passava uma rua no meio dela e as pedras do chão tinham cores esbranquiçadas e avermelhadas. Plantei um Pé de Salgueiro no canteiro do lado esquerdo da igreja, perto daquele carro de Dociano, que nunca era lavado... Dos 3 plantados só o meu cresceu, os outros morreram. Mas depois de um tempo fizeram mais uma reforma e o mataram. Uma vez, por trás do palco da festa de Santo Antônio vi um menino apelidado de Pinguim levar um martelo rodado na cara (hoje sei o nome do golpe por ter feito capoeira), teve aposta e tudo.

Uma vez aconteceu uma magnífica gincana sobre Raimundo Carrero, famoso escritor que divide sua origem salgueirense conosco. Não lembro bem o motivo da gincana, lembro que aprendi muito da vida dele nesse evento. Sempre olhava para o primeiro andar da casa da sua irmã para ver se via aquele, que na época era pra mim o maior pop-star de Salgueiro (Manoel Tobias não contava, pois na época ele dizia que era de Recife e todo mundo sabe que Rafael jogava melhor que ele). Nunca lera nenhum livro seu mas sonhava em ver a história da Tigre do Sertão, que segundo aprendi na gincana, fora escrito de uma tirada só em uma única noite. Imaginava se tinha sido naquela casa. Divagava...

Antigamente, beeeem antigamente, o busto de "Mundinho" ficava em cima de uma pedra feiosinha lá. Em mais uma das reformas da praça, o busto d'O que tornou tudo possível, ganhou um destaque especial no monumento verde! Segundo meu avô e alguns amigos do meu pai, a escultura é, por algum motivo ignorado, uma representação de um despolpadeira de arroz (eu já vi uma e realmente lembrava...). Isso não é bem a verdade, a escultura é uma representação do pé de Salgueiro onde "Mundinho" foi encontrado após fugir de casa para não tomar banho. Na minha opinião sempre achei que era algum tipo de nave espacial, ou de passagem para algum lugar no horizonte... juro que já consegui passar por entre seus espaços.

Como muitas crianças que corriam e brincavam por aquela praça, fui ficando mais velho e substituindo as brincadeiras por conversas e histórias. Muitas prosas e aventuras eram narradas ali, antes, durante e depois das missas de domingo. Lembro de momentos muito legais nas Festas de Santo Antônio. Uma vez eu e um grupo de colegas conversamos sobre histórias de trancoso enquanto consumíamos vorazmente cachorros-quente feitos pelas freiras (e tinha a coxinha de massa de macaxeira... mas essa eu não provei). Noutra teve um desfile de moda super manjado que levou o público ao delírio, pois as modelos eram pessoas que todo mundo encontrava corriqueiramente na rua. Assim era o glamour da praça.

Também foi nessa praça que aconteceram os mais sangrentos duelos de Salgueiro. Lá, alguns homens se reuniam nas segundas, quartas e sextas para batalhas mortais. Pontualmente às 20:00 os tabuleiros eram montados e as mais violentas partidas de xadrez de que tenho notícia aconteciam até a hora que o vigia pedia para pararmos de fazer barulho. Em meio a gritos de menino, bolas estouradas (por Dagoberto e sua caneta Bic), clamores por "Toega" e uma kombi branca (que só abria a porta traseira), também rolavam muitos xeque-mates.

Nem falei das construções da praça, seu coreto que resistiu a todas as reformas e serve de suporte para os penduricalhos em períodos festivos. Tem a casa castelinho, que fica numa das saídas da praça e sempre achei que deveria ser um monumento tombado do patrimônio de nossa cidade. As casas do lado da câmara de vereadores são um show a parte devido a suas formas construtivas (tirando aquela casa espelhada da esquina... era muito mais bonita a forma original e que ensinava teclado). De súbito lembrei que meus avós paternos tinha uma casa na praça... se perdeu.

Mas sei que aquela praça teve e tem muito mais histórias que essas... A praça vive.

Rodolfo Nícolas já perguntou a Carminha o que acontece se ela colocar a mão no fogo.

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