O enroladinho da morte e as linhas Salgueiro/Recife e Recife/Salgueiro

Ao fim da minha infância fiz o caminho de muitos interioranos. Um caminho parecido com o de meus antepassados que construíram o Brasil e Brasília. Não sei. Quando minha voz desafinava mais do que a de Louro Santos, eu saí da minha amada terra natal para estudar na capital. Nessa época Salgueiro não tinha Escola Técnica nem Faculdade Estadual. O que restava para muitos era botar a malinha nas costas e ir para outras bandas.
Esse é teu Binho Rere.
Iguaria sem igual
Os caminhos levavam para o Ceará e seu "Cratim de açúcar ou aqui dentro do estado mesmo, tínhamos vários destinos como Petrolina, Serra Talhada, Caruaru e, por fim, o destino de muitos (inclusive o meu), a capital de Pernambuco, Recife.

Peguei muito as linhas Salgueiro/Recife e Recife/Salgueiro saindo e voltando de minhas origens. Conheci uns 5 modelos de ônibus, principalmente da Progresso e Princesa. Peguei pinga pinga. Fui de carona também. Perdi o ônibus e voltei em pé. Fiquei a míngua na estrada ao lado do ônibus quebrado. Peguei linhas de outros estados (e seus banheiros impraticáveis), etc.

Mais comumente pegava as linhas noturnas, andando pela madrugada. Independente da origem no interior ou na capital, sempre a mesma parada estratégica. Em Arcoverde, os 15 minutos para ir ao banheiro ou lanchar. Um ou outro usava o tempo para esticar as pernas ou apenas para cuspir. Um fenômeno interessante na noite arcoverdense é que mesmo com baixíssimas temperaturas no ônibus, fora é sempre mais frio. Meus dentes sempre batiam e acompanhavam as juntas que doíam.

Mas o que mais me marcou nessas idas e vindas foi o lanche da rodoviária. Certa vez deixei de aceitar uma carona para Salgueiro devido a vontade de comer uma coxinha de rodoviária. Dei uma desculpa de que tinha aula e por isso não podia ir. Mas meu inconsciente individual sabia que era para lanchar. Lembro que comi uma coxinha e tomei uma coca em lata, era o padrão: salgado + líquido. Quando parei de tomar refrigerante (após uma revelação) ainda tomei algumas Skinkas manchadoras de pulmão.
Deliciosa coxinha
Uma vez comi "a janta" que foi macarrão com calabresa, outra vez um misto quente... ainda hoje não me perdoo pelas noites que de cansaço dormi e perdi a parada do lanche... muito triste o que o trabalho faz ao homem... suga suas energias e pode atrapalhar os bons momentos da vida.

Em geral a vedete do balcão era a coxinha mesmo, mas para mim, nada superava "a menina dos olhos": O enroladinho da morte! Havia até local de destaque para eles. Não vou me deter falando sobre a coxinha, todo mundo já conhece e por isso ela é o salgado mais consumido no Brasil.

Para quem não sabe, o enroladinho da morte (também conhecido como enroladinho de salsicha pelos que não tem amor, diversão, paz e alegria no coração) é um salgado feito com massa de coxinha e salsicha. A salsicha tem que estar inteira ao ser empanada, para não corrermos o risco de termos uma coxinha de salsicha (que deve ser horrível). Depois do "empanamento" da salsicha, o conjunto é atirado ao óleo quente (de preferência do dia anterior, para dar mais sabor - isso tem relação com a quebra das moléculas de óleo e a melhora na transferência de calor). E tcháááááááá, ele começa a fritar e adquirir coloração amarronzada. Quando a cor estiver marrom provocante, a iguaria já se mostra boa para o consumo. Depois fica ele lá, brilhoso, faceiro... molhando o guardanapo de papel. Deitado no balcão se oferecendo para ser devorado, de preferência com maionese (e até cate-chupe para quem gostar)...
Vedetes endiabradas
Comi muitos enroladinhos da morte nas bodegas de Recife, nos lanches do colégio, em paulo Cachorrão (que apresentava variações interessantes como o enroladinho de massa branca ao forno, enroladinho com queijo e galinha, etc) e em muitos outros lugares. Mas nenhum conseguiu ser tão divertido e saboroso como o da parada do ônibus da Progresso em Arcoverde. Talvez o gosto fosse bom no caminho de ida para o interior pela saudade da família e da cidade... que logo seria apaziguada. Na volta a capital o gosto devia vir acompanhado das aventuras das férias e feriados... Espero um dia pegar essa linha de novo e ver se o enroladinho ainda está por lá...

Rodolfo Nícolas prefere ir e voltar de Salgueiro em pretinho.

Obs: Na volta das eleições 2012 ele não estava lá. Comi uma empada que provou minha velhice, pois conseguiu agredir meu estômago.

2 comentários:

Leo disse...

rsrsr muito bom! (o texto, o salgadinho eu provo esses dias!)

Anônimo disse...

do caraleo essa boceta.