Buchada de Bode em Verdejante! Buchada é Buchada!

Domingo de sol. Muito sol. Afinal, estamos no sertão pernambucano, mais precisamente na cidade de Verdejante. Para aqueles que não têm acesso às rodovias e à vegetação nativa, uma boa notícia: está tudo verdinho. Deu umas chuvinhas por aqui (por lá), mas foi o necessário para florescer. E a cantiga seca, marrom, sem vida, é substituída pela natureza verde. Conversei com um tio que tem roça e ele me disse que essas chuvinhas ajudaram bastante. Agora é rezar para que continuem caindo.
Perto desse suculento bode há uma buchada já sem vida, atacada pelos fãs dessa iguaria sertaneja
Então, como falava de início, muito calor. Família reunida (pelo lado paterno). E a notícia do momento é que encontraram ouro em algumas terras de Verdejante. Segundo fontes não confiáveis, pois não chequei a veracidade da declaração, apenas repasso adiante, estão cavando buraco nas terras alheias para encontrar ouro. Quem tem terreno por essas bandas, se ligue! São potenciais Serras Peladas, garimpo a céu aberto. Lembro que, na infância, assisti a um filme dOs Trapalhões, baseado no assunto.


Durante essa resenha farei várias digressões, abrirei inúmeros parênteses e parênteses dentro de parênteses porque uma coisa sempre me lembra outra, antes que eu consiga concluir um raciocínio. Quando percebo, saio totalmente do foco. Então retorno ao pensamento anterior.

Retornando!!! Muita gente querida... a parentada toda reunida... muito calor, um cenário verdinho de ‘dar gosto’... As pessoas insistindo para que você beba, ainda que você explique inutilmente que está usando uma medicação que não combina com o álcool e tarará.... Insistências, à parte, toda comemoração sertaneja que se preze tem que ter muita comida. Mas, muuita comida. Hora do almoço. Costumam dizer que o brasileiro adora fila. E o pior é que é verdade. Fila para o banheiro, fila para comprar o lanche no colégio, fila para a comunhão na igreja... e, assim, no nosso país tropical, a maioria dos aglomerados de pessoas inevitavelmente transforma-se em uma fila. Então, estou eu, exatamente, numa dessas filas, a do almoço. Pratinho na mão, garfo, faca... (ai como a vida é bela...lá rá rá), quando vejo um prato de buchada. Eu adoro buchada, negócio meio difícil de se entender porque eu não como carne vermelha (e faço o possível para ficar bem longe de galinha de granja), mas buchada É buchada. Com ‘É’ maiúsculo e em negrito. Acho que uma obsessão, trauma (sei, lá!), algo gerado na infância, quando, nos almoços de família (pelo lado materno), a buchada era o prato para os tios de Recife. Não é lavação de roupa suja, não... Amo minha família, mas, verdades sejam ditas, na casa da minha avó, a galinha de capoeira, o bode e a buchada eram privilégios dos tios do Recife (quando estavam em Salgueiro). Então, como eu era de Salgueiro, essas iguarias típicas eram, for me, praticamente, inacessíveis.
Por outro ângulo... hummm... com uma lapada de cana...
Voltando ao assunto da fila, ela girava em torno da mesa e eu percorria meio apreensiva porque a direção em que o pessoal girava me colocava bem distante do prato que eu queria e que, eu sabia, também era o alvo de muita gente... E passava todo mundo por elas, e eu pensava: ‘quando chegar a minha vez não vai ter mais nada’... Mas, para o deleite do meu paladar carente, havia muitas, mas, muuuitas outras buchadas em estoque para o abastecimento da mesa.

Tinha feijoada (caldinho delicioso como entrada), arroz, vinagrete, macaxeira e bode... Mas meu almoço foi só a buchada. Uma inesperada surpresa para mim, nesse fim de semana, pois havia sido convidada para uma feijoada.

Para quem não sabe, buchada (de bode) é um saquinho redondo feito do estômago (bucho) ou do intestino grosso do bodinho (assim carinhosamente), costurado com linha mesmo, de tecido, e dentro do qual tem fígado, tripa, algumas outras vísceras e arroz. Tudo lavadinho, temperadinho e aferventado. E as bolsinhas, depois de costuradas e lacradinhas, são cozidas.

Se você parar para analisar, é algo muito estranho, mas, nesse caso, comer é muito melhor que pensar!

De acordo com a anfitriã da festa, a buchada encomendada custa, em média, R$ 30,00. Dá uns quatro saquinhos de bucho.

Advertimos que tem que ser feita por pessoa higiênica, caso contrário, é possível que o degustador passe mal.

Raquel Rocha é repórter eventual do Pajaracas.com, cuja sede fica em Salgueiro(PE).

Salgueiro, em Pernambuco, fica a 516 km da capital Recife.

Verdejante, local em que comemos a buchada (casa de Dejanilson, Neide, Deivton, Débora e Douglas), fica à 29,4 km de Salgueiro. Meia horinha de percurso.

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